20 ene 2011

Baixa-mar em Cardiff


Espera.
Inspira.
Apaga-se.
Esfria-se.
Suspira
Pela sua sinusoidal vida.

As águas temperadas
Temperaram o desejo
De as reter,
De as acariciar,
De as seguir,
E depois, fugiram.

Espera.
Acende-se.
Expira.
Aguarda.
Apaga-se.
Destempera-se.
Contempla no horizonte longínquo
A proximidade do ponto de inflexão
Inflexivel, recorrente,
Profundo, desumano
E no final ascendente.

Acende-se
Ilumina.
Diminui.
Descobre como se evapora
A vida que a recobre
E a cobre de sal

Mexe-se.
Acosta-se.
Estremece.
Já não sabe
Se sabe
O que sabe
A mar.


Espera
Respira
Apaga-se
Dorme.
Desperta.
Acende-se
Sonha que navega,
Navega nos seus sonhos
Deseja o que sonha,
Navega nos seus desejos.
Estendida na lama
Frio o lastro
Ao calor do farol
Evapora-se.
Não busca o sol,
Tão só recorda
A água que venderá
Ao despontar a aurora.


Espera.
Respira.
Embravece
Tirita.
Apaga-se
E treme
O sal saboreia
Molhando o seu sorriso,
Quando sente na brisa,
Quando se aproxima a maré.

Acende-se
Ilumina.
As neves da serra Nevada,
Derretidas no rio Genil
Trazem-lhe, perfumadas
Com aromas de Gualdaquivir,
Lembranças da Alhambra,
A doçura de Andaluzia
E a música de uma guitarra,
Na que Paco de Lucía
A deslumbra
Entre duas águas.

Abraça o momento
Sente o medo
E beija trémula
As águas contra o vento

Não tremas,
Não tirites
Não, não temas,
Que não és mais
Que a querena
De um farol de navio
Fundeado em Cardiff
Esperando ancorado
Que regresse a maré.

No hay comentarios:

Publicar un comentario