Quero estar despida
Tirar tudo
Até as palavras
De Neruda
Que inundaram
A minha vida
De poesia.
Quero atravessar
Ruas tão vazias
Como o meu blogue
No verão de mar.
Saciar-me de água
De dia e de ar
Para me afastar
Da saturação das noites
De ambição hiperactiva.
Quero o olhar
De um mudo que
Reúna todos os sentimentos
Que destroçaram as palavras.
Não quero sentir os tecidos
Nem escutar o meu nome
Prefiro ir à deriva
E sacrificar as âncoras
A não me sentir viva
Ao navegar com velas
Movidas electricamente.
Quero a carícia
De um cego que admira
Destemidamente
A minha nudez incolor.
Sem anéis
Sem colares
E sem roupa
Quero-me sentir
Mais eu
E menos outra
Sentir na pele
O abraço do mar
Sem interferências
Correr pela beira
Sem guardar confusas
As ingénuas aparências.
Quero o grito surdo
De quem está só
E irremediavelmente distante.
Se não houvesse outros poetas
Eu tampouco escreveria.
Não quero estar vestida
Para poder sentir
A tua mão despida
Na minha.