20 ene 2011

Acabou a última guarda


Acabou a última guarda
Da última viagem
Breve voltarei a andar em terra
Com o vaivém nas ancas,
E sentir-me-ei esquisita
Ao caminhar pelas ruas
Da minha infância,
Mas agora sem a roupa
Do meu irmão mais velho,
Menos pobre
E mais rota.
O rasto atrás da popa
Desenha  sem cor
O que caminho pelo que já passamos.
A minha poesia também é
Uma aguarela
Sem segundas oportunidades,
Que como a vida se forja
Com cores da água
Sombras da terra,
E transparências sem trégua
Que atravessando léguas
Sem destino
Leva-me ao final de todas as festas
Na mais profunda das solidões
Não pertenço ao mar
Nem à terra
E muito menos aos barcos.
Agora toca-me navegar
Entre os mares de pessoas
Perdidas na cidade.
Uma vez disseram-me
Que Lisboa não é Portugal
E agora sei que não o é,
E só eu sei
Que talvez nunca
Voltarei a embarcar
Ficando com as noites escuras
Sem estrelas e sem lua.

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