20 ene 2011

Quero estar despida

Quero estar despida
Tirar tudo
Até as palavras
De Neruda
Que inundaram
A minha vida
De poesia.

Quero atravessar
Ruas tão vazias
Como o meu blogue
No verão de mar.
Saciar-me de água
De dia e de ar
Para me afastar
Da saturação das noites
De ambição hiperactiva.

Quero o olhar
De um mudo que
Reúna todos os sentimentos
Que destroçaram as palavras.

Não quero sentir os tecidos
Nem escutar o meu nome
Prefiro ir à deriva
E sacrificar as âncoras
A não me sentir viva
Ao navegar com velas
Movidas electricamente.

Quero a carícia
De um cego que admira
Destemidamente
A minha nudez incolor.

Sem anéis
Sem colares
E sem roupa
Quero-me sentir
Mais eu
E menos outra
Sentir na pele
O abraço do mar
Sem interferências
Correr pela beira
Sem guardar confusas
As ingénuas aparências.

Quero o grito surdo
De quem está só
E irremediavelmente distante.

Se não houvesse outros poetas
Eu tampouco escreveria.

Não quero estar vestida
Para poder sentir
A tua mão despida
Na minha.

Quero estar ao teu lado


Busco nas partes mais distantes
Às minhas frias extremidades
Que é o que ainda resta meu
De mim
Para to dar
Busco na interminável, lenta
E desesperante caravana de carros
O final da espera.
Prolongo-me verticalmente
Para chegar à exosfera
E alheia à força gravitacional
Ionizar-me e mesclar-me
Como pó cósmico asideral.
Quero ser plasmática, ligeira
Magnetizada e sincera.
Quero ver desde cima
O final da espera.
Quero ser pó ligeiro e ardente
Proveniente da tórrida termosfera
Que cubra e quente
As tuas frias extremidades
Que busque e descubra
Como te dar, o que já não é mais meu,
De mim.

Acabou a última guarda


Acabou a última guarda
Da última viagem
Breve voltarei a andar em terra
Com o vaivém nas ancas,
E sentir-me-ei esquisita
Ao caminhar pelas ruas
Da minha infância,
Mas agora sem a roupa
Do meu irmão mais velho,
Menos pobre
E mais rota.
O rasto atrás da popa
Desenha  sem cor
O que caminho pelo que já passamos.
A minha poesia também é
Uma aguarela
Sem segundas oportunidades,
Que como a vida se forja
Com cores da água
Sombras da terra,
E transparências sem trégua
Que atravessando léguas
Sem destino
Leva-me ao final de todas as festas
Na mais profunda das solidões
Não pertenço ao mar
Nem à terra
E muito menos aos barcos.
Agora toca-me navegar
Entre os mares de pessoas
Perdidas na cidade.
Uma vez disseram-me
Que Lisboa não é Portugal
E agora sei que não o é,
E só eu sei
Que talvez nunca
Voltarei a embarcar
Ficando com as noites escuras
Sem estrelas e sem lua.

O Rio Negro e a sua amante Amazona


O Rio Negro e a sua amante Amazona
num pastel de mármore
unem carícias, olhares, aromas.
O frio Báltico e o Mar do Norte
distantes dos seus consortes
numa dança de ondas
Fingindo estar a sós
Mesclam-se e golpeiam,
Salpicam-se ferozes,
Bailando nuas as águas
beijam-se velozes.
As montanhas de Geiranger
reflectem-se inversas
Nas águas que ocultam
os  seus opostos vales.
As montanhas imersas
Desesperadas elevam-se
Fugindo das medusas.
Em latitudes nulas
com a temperatura e humidade oportunas,
numa deleitante imensidade
o  céu e o mar fundem-se,
numa explosão de claridade
o céu e o mar confundem-se,
ardentes desejos finalmente afundam-se
numa meridional garganta profunda,
quando o raio verde,
Sim! O raio verde! Tudo o inunda.

Baixa-mar em Cardiff


Espera.
Inspira.
Apaga-se.
Esfria-se.
Suspira
Pela sua sinusoidal vida.

As águas temperadas
Temperaram o desejo
De as reter,
De as acariciar,
De as seguir,
E depois, fugiram.

Espera.
Acende-se.
Expira.
Aguarda.
Apaga-se.
Destempera-se.
Contempla no horizonte longínquo
A proximidade do ponto de inflexão
Inflexivel, recorrente,
Profundo, desumano
E no final ascendente.

Acende-se
Ilumina.
Diminui.
Descobre como se evapora
A vida que a recobre
E a cobre de sal

Mexe-se.
Acosta-se.
Estremece.
Já não sabe
Se sabe
O que sabe
A mar.


Espera
Respira
Apaga-se
Dorme.
Desperta.
Acende-se
Sonha que navega,
Navega nos seus sonhos
Deseja o que sonha,
Navega nos seus desejos.
Estendida na lama
Frio o lastro
Ao calor do farol
Evapora-se.
Não busca o sol,
Tão só recorda
A água que venderá
Ao despontar a aurora.


Espera.
Respira.
Embravece
Tirita.
Apaga-se
E treme
O sal saboreia
Molhando o seu sorriso,
Quando sente na brisa,
Quando se aproxima a maré.

Acende-se
Ilumina.
As neves da serra Nevada,
Derretidas no rio Genil
Trazem-lhe, perfumadas
Com aromas de Gualdaquivir,
Lembranças da Alhambra,
A doçura de Andaluzia
E a música de uma guitarra,
Na que Paco de Lucía
A deslumbra
Entre duas águas.

Abraça o momento
Sente o medo
E beija trémula
As águas contra o vento

Não tremas,
Não tirites
Não, não temas,
Que não és mais
Que a querena
De um farol de navio
Fundeado em Cardiff
Esperando ancorado
Que regresse a maré.

17 ene 2011

ÉS L'HORA DE PATIR



És l’hora dels Déus
Sense noms ni religió,
Fets de plors i desesper,
Als quals implorarem,
A la nit trencada de l’hivern més fred,
Que existeixin més enllà de la matinada.

És l’hora de l’amor i les carícies tendres
Per fer més dolces les hores
De qui ara dorm anestessiada.

És l’hora de preguntar al cel diví
Com sobreviure al dolor de perdre
A una mare que poc a poc está morint.

Quan els peus tremolen davant de la mort
És l’hora de cridar misericordia,
Sense veu i de genolls,
I de tornar a creure en la victòria
Quan ens ha donat l’esquena la sort.

El temps ja no tornarà enrera,
A les nits de princeses i rialles
Quants minuts perduts
Amb discussions innecessàries,
Que lluny queden el matins de petons
I el món de contes i fades.
Ja no tornarem a les guerres diàries
Per l’hora de tornada
D’una adolescent
Per la qual patia una mare.

Arribà el temps dels mocadors al cap
I d’oblidar-se dels cabells.
És l’hora de la lluita de qui no sap
Ni per a quants dies més de vida,
Haurà de continuar patint
D’uns tremors  a la pell
Que deixan l’ànima buida.

És l’hora de preparar-se per remenar
Cartes, diaris i fotografies,
I violar els seus records més sagrats
Volent sentir-la més a prop,
Per descobrir als secrets del passat
Una infantessa perduda
La realitat dels seus dies,
I ferides profundes al cor,
D’una jove decebuda
I destrossada pel seu gran amor
Que no va ser pas el meu pare.

Tant ens fa això ara,
Una vida està feta de plors i alegries
I encara que lluitant i patint
és vida fins que arriba el dia
De dir Adéu i partir.

Quan ja no siguis aquí
Espero que m’hagis sentit
Quan et deia: “Gràcies per la vida,
T’estimo tant,
Tot m’ho has donat,
Quant t’estimo, mare”.

9 ene 2011

Puñalada

No me gusta lo que escribo
Inundada de rabia, tormento y recelo,
Pues lo único que transcribo
Es el doloroso sentimiento de una mujer abandonada
En una estación de tren de un pueblo costero.

¿Cómo llorar con los versos?
¿Para qué gritar en el desierto?

Como duele creer en el amor
Y descubrir que estamos solos,
Como la mujer que vestida de blanco
Ve teñirse su largo vestido de rojo.


Algún día ella no podrá recordar
Sin esfuerzo el nombre
De quien por un simple antojo
La apuñaló en el corazón.
Tan solos como el hombre
Que entre el olvido y la obsesión
Abandonó a la mujer
Que caminando sobre la arena
De una playa de agosto, ajena
A las miradas de miles de bañistas desnudos
Tras una melena larga y desordenada
Oculta un rostro que anda perdido
Sin dueña ni dueño.
Ella no ve nada. Las lágrimas son su escudo.
Ni sueña despierta con volverlo a encontrar.
Ella nunca supo ver nada.
Ella sólo sabía amar.

Me trago la saliva
Y grito en silencio por no callar
Sola, vulnerable, dañada y abatida
Me trago la rabia por no gritar.

No me gusta como describo la vida
Cuando me falla la esperanza,
Los sueños son escasos y me decepciona mi rumbo.
¿Para qué recorrer el mundo sabiendo
Que ya no vendrás conmigo?


Tengo que escribir el final de este capítulo
Aunque no me guste lo que escribo,
Para empezar mañana con uno nuevo mi futuro
Porque tengo que despedirme de un fracaso,
Aceptar que te he perdido,
Y porque algunos de los que me leéis
Así me lo habéis pedido.